29 de julho de 2017

A TRAJETÓRIA DE DOMINGO ALZUGARAY, UM SENHOR EDITOR


Por Carlos José Marques e Amauri Segalla, na revista Istoé

29 DE JULHO DE 2017 - Os antepassados bascos transmitiram a Domingo Alzugaray a noção de que o homem vence suas batalhas na vida usando 5% de inspiração e 95% de transpiração. Fiel a esse adágio, ele o perseguiu a cada novo desafio na sua rica trajetória, que redundou no Grupo de Comunicação Três, responsável pelas revistas ISTOÉ, ISTOÉ DINHEIRO e inúmeras outras publicações de expressão no mercado. Alzugaray se transformou em um dos maiores e mais influentes nomes da mídia nacional e à constatação de sua morte, na semana passada, abriu-se um vazio no mundo empresarial brasileiro, no ambiente de seus familiares, colaboradores e amigos mais próximos – e na história dos grandes nomes da imprensa. Na segunda-feira, 24 de julho, Alzugaray faleceu aos 84 anos em consequência de complicações causadas por um Parkinson em estágio avançado. Ao longo de quase meio século, ele construiu uma máquina de geração de conteúdo jornalístico que informou e formou brasileiros do Oiapoque ao Chuí, atuando em diversas plataformas, inclusive com o pioneirismo na área digital. Alzugaray esteve sempre um passo à frente na busca por inovação. Seu maior legado, contudo, é difícil de medir em números – talvez seja mais adequado aos manuais de jornalismo –, com a sua regra inquebrantável de levantar todos os ângulos de uma notícia. “Aqui não sai matéria, seja na ISTOÉ, na DINHEIRO ou em qualquer de nossas revistas, sem farta comprovação, fatos concretos e provas materiais de que o episódio existiu”, costumava dizer. Ele consagrou a “reportagem de autor”, fora do conceito de textos pasteurizados, tal qual linha de produção industrial, sem alma ou análise de contexto, vigente até então. Nas páginas das revistas que criava, Domingo Alzugaray praticamente reinventou o jornalismo informativo. Alinhavou novos princípios de edição, cobertura e enfoque. Apostou no modelo investigativo, de acuidade com os meandros da notícia. E nessa jornada, sob a sua batuta, a Três reviu rótulos, consagrou a verdade factual e refez a história em vários momentos, ajudando decisivamente na construção da Nação. “Um de nossos orgulhos é saber que as revistas da Três interferiram positivamente no avanço do País”, dizia Domingo Alzugaray.

Nesses anos de triunfos e solavancos, Alzugaray não perdeu os modos. Suas revistas frequentemente são firmes e críticas, mas ele exercia o controle da empresa com a gentileza e a elegância de um fidalgo. Envolvia-se diretamente e de forma diária na atividade editorial. Discutia todas as capas, acompanhava de perto as grandes reportagens, deleitava-se com as informações exclusivas, transformava seus almoços semanais na Três, quando recebia empresários e políticos, em longas e saborosas entrevistas. Argentino de origem e brasileiro por opção, tendo se naturalizado em 1966, Alzugaray nasceu na cidade de Victoria, província de Entre Rios. Desembarcou no Brasil em 1958 e dois anos depois se casou com a carioca, do bairro da Tijuca, Catia Alzugaray, com quem teve os filhos Caco e Paula, ambos discípulos do pai na missão de levar adiante a saga da família no jornalismo. O grande prazer da sua vida, nas horas de lazer, era a fazenda que possuía em Ibiúna, onde fazia reflorestamento, plantava eucaliptos e pinus, e tinha uma criação de cães, com dezenas deles, que resgatava das ruas. Torcedor do Corinthians – o que despertava em casa saborosos debates futebolísticos com o filho palmeirense –, Alzugaray tinha orgulho de ser brasileiro.

“Minha vida é em português, minha família é daqui, a minha história, tudo que construí foi no Brasil”. Formou-se em Perícia Mercantil, mas preferiu iniciar a carreira como ator, trabalhando em teatro e cinema. Galã de fotonovelas e da telona na juventude (fez cinco filmes, o último deles em 1960), Alzugaray trouxe para a atividade editorial uma combinação incomum de modéstia e eficácia. Ele era de longe o mais acessível e pedestre entre os pioneiros barões da imprensa brasileira. “Me chame de diretor-responsável”, estabelecia. Recusava o merecido título de “publisher” e proibia certas referências, tipo “patrão” ou “chefe”. “Quem tem chefe é índio”, brincava. Delegar era algo natural no seu relacionamento com os subordinados. “A linha editorial a gente fixa de comum acordo com os diretores de redação e depois eles que executam”. Afeito a uma boa conversa, costumava chamar jornalistas para trocar impressões em sua sala, ao som de algum belo tango argentino. Muitas vezes, por ocasião desses encontros, surgiram projetos que mais tarde se revelariam bem-sucedidos. Sua frase favorita, tomada por empréstimo da empresária Katharine Graham, do Washington Post, refletia um espírito prático: “imprensa independente é imprensa que dá lucro”. A mesa de trabalho de Alzugaray estava sempre coberta de pilhas de papéis, que só ele era capaz de localizar. Lia dezenas de artigos, conferia a pauta dos veículos da casa e da concorrência para comparar, anotava com caneta em suas publicações o que tinha a recomendar ou corrigir. Era um editor pleno.

A travessia até esse domínio do modus operandi de revistas de informação foi gradual. Da ascensão de Lula – que estampou uma capa da ISTOÉ ainda nos idos de 70, no auge da ditadura militar, quando era um desconhecido metalúrgico do ABC, fazendo ali sua estreia na mídia – aos impeachments dos presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff, muito da vida nacional passou pelas páginas das revistas conduzidas por Alzugaray, com revelações decisivas que mudaram o curso dos acontecimentos, graças a lances de ousadia e determinação do editor. “A imprensa e a democracia perdem um de seus baluartes. Sua atuação foi marcante. Em todos os setores em que atuou, sempre ocupou posição de liderança”, disse o presidente Michel Temer. A obstinação, independentemente das simpatias ou divergências políticas, era a marca de Domingo Alzugaray. Como empresário, conheceu e influenciou todos os presidentes brasileiros desde a redemocratização. Identificou o potencial de Lula nos tempos difíceis do movimento sindical. E também de FHC, quando ele era ainda um professor de sociologia, aspirante a projeção política. Com José Sarney tinha vínculos especiais e uma admiração recíproca. Aos que o criticavam por ligações com o poder, orgulhava-se de mostrar a independência de opinião e a firmeza de cobranças ao sistema, sempre que necessário. Seus veículos exerceram uma prática cotidiana de jornalismo analítico, plural e independente, que não compactua com interesses específicos de grupos ou pessoas. Aos editores sugeria um lema: a defesa intransigente da democracia. Quando ergueu a Editora Três, em 1972, junto com os sócios Fabrizio Fasano e Luiz Carta (daí o nome “Três”), Alzugaray deixou para trás um bem-sucedido emprego como diretor comercial. A data era 31 de janeiro daquele ano e o então jovem ator argentino que chegara ao Brasil nos anos 50, para ficar seis meses, implantando o departamento de fotonovelas da Abril, tomava uma decisão arrojada e dava o primeiro passo do que viria a ser uma longa e profícua trajetória empresarial. Ao então empregador, Victor Civita, informou com respeito e entusiasmo: “Durante 15 anos eu ajudei o senhor a construir o seu castelo. Agora eu quero fazer a minha choupana”. Reuniu US$ 30 mil do Fundo de Garantia e outros US$ 40 mil que haviam sobrado do crash da Bolsa de Valores de São Paulo e partiu para a empreitada. O capital era suficiente apenas para contratar cinco pessoas e alugar um andar de escritório na avenida Brigadeiro Luis Antônio, no coração paulistano. Tremenda aventura. Por que empreendê-la? “Eu tinha 40 anos e um projeto de vida. Queria fazer minha própria editora”, explicou o empresário em uma de suas antológicas entrevistas. Alzugaray era homem afeito a grandes viradas de vida em momentos improváveis.

Naquele período conturbado, no auge do regime militar, com cerceamento policial à liberdade de expressão, poucos se lançariam num projeto tão arriscado. Tratava-se de inventar uma empresa de informação a partir do nada, em um ambiente já ocupado por grandes companhias. A aposta inicial foi por um produto de larga vendagem e elaboração simples: o então fascículo de culinária MENU. A ele seguiu-se uma série de outros fascículos de enorme repercussão e duas célebres coleções de livros. A primeira delas trouxe 48 títulos e vendeu quase 2,5 milhões de unidades, um feito inacreditável para um País com reduzido índice de leitura. Alzugaray, naquele momento, já estava fazendo história. Demonstrou ser possível comercializar literatura em bancas de jornal, a preço acessível, para vastas audiências. A segunda coleção, escrita pelo célebre historiador Hélio Silva, desafiou a censura ao publicar o relato da morte sob tortura de um militante contrário ao regime. Era da natureza de Alzugaray os justos enfrentamentos.
Apenas seis meses após constituir a Três, nascia a PLANETA, título que persiste até hoje. Inspirada na “Planète”, criada por dois intelectuais franceses, ela seria comandada pelo jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão. Foi aí que outra bela tradição começou: em sua história, a Três contratou e teve entre seus colaboradores alguns dos mais brilhantes cérebros do País. Glauber Rocha, Jorge Amado, Rubem Braga, Millôr Fernandes, Carlos Drummond de Andrade, João Ubaldo Ribeiro e Paulo Francis são alguns dos nomes que ajudaram a construir as páginas publicadas pela Editora Três. Quem cotejar o plano de Alzugaray com a realidade do que ele obteve nesse quase meio século da Três terá a certeza de estar diante de uma grande obra. Talvez tenha sido fruto da postura sempre confiante de um otimista incorrigível. Mas ao lançar a lupa sobre os movimentos certeiros dados por ele será fácil notar que Alzugaray conhecia bem o métier. Algo nato, inerente a sua personalidade e que despertou respeito e reconhecimento entre os convivas. Muitos, aliás, da classe política à empresarial, profissionais de imprensa, banqueiros e juristas vinham a ele em busca de sugestões e conselhos.

Grandes encontros

Alzugaray, tempos atrás, encomendou uma longa mesa de mogno, maciça e de tronco inteiriço, para recebê-los. Estar sentado à mesa representou e representa até hoje um estratégico ponto de localização para se conhecer melhor o País. “O Brasil passou por ela”, dizia Alzugaray. Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Antônio Ermírio de Moraes, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva, Lázaro Brandão, Joseph Safra, José Sarney, Fernando Collor, José Alencar, para citar apenas alguns exemplos marcantes, trocaram ideias com jornalistas da editora – e com o próprio Alzugaray – diante do móvel comprado no fim dos anos 70 por ele. “A mesa virou símbolo da empresa”, definia o editor. A saga de sua compra foi estudada de maneira pormenorizada. Alzugaray queria uma mesa de reuniões para a presidência que se distinguisse das demais. Nada atendia a suas expectativas. Ele imaginava um móvel único, de grandes dimensões e capaz de receber bem qualquer visitante – um líder da República, um empresário, uma personalidade. Saiu a procurar o objeto de desejo em Embu das Artes, cidade na Grande São Paulo famosa pelo comércio de móveis artesanais, e o encontrou. “Vi aquela imensa tora encostada em um canto e logo a vislumbrei na editora”, gostava de contar. “O dono da loja falou que faria três mesas com a tábua, mas eu quis comprar a peça inteira”. Complicado foi instalá-la na sede da Três, um edifício industrial do século XIX erguido na Lapa de Baixo, zona oeste de São Paulo. Alguns vitrais da fachada tiveram que ser retirados, parte de uma parede foi quebrada e só com a ajuda de um guindaste ela chegou ao seu destino. De madeira de lei, a mesa pesa meia tonelada, tem cinco metros de comprimento por um de largura e possui bordas irregulares que lhe conferem um aspecto singular, como se a natureza a tivesse esculpido para passar seus dias ali, naquela sala da Editora Três, testemunhando as transformações vividas pelos brasileiros, na palavra de seus protagonistas. Sobre ela, Alzugaray colocou uma pedra maciça com dezenas de cristais sextavados, que acreditava lançar bons fluidos de energia sobre os presentes.

A mesa de trabalho de Alzugaray estava sempre coberta por uma pilha de papéis que só ele conseguia localizar. Nesta sala, comparava artigos estrangeiros, textos da casa e da concorrência.

É claro que essa obstinação de Alzugaray não tinha sido a primeira, nem a mais inusitada delas. Em 1974, mesmo diante dos limites impostos pela ditadura, ele resolveu criar uma revista provocativa, com fotos de mulheres lindas e despidas e reportagens do tipo que prendem o leitor do início ao fim. Surgiu assim em agosto daquele ano, a Status, a primeira revista masculina do Brasil. Seu parceiro na Três, Fabrizio Fasano, já havia deixado a sociedade um ano antes, partindo para outros desafios. Alzugaray, ao lado de Luís Carta, encarou o sonho que, menos de uma década depois, atingia tiragens de 400 mil exemplares. “A STATUS plantou os alicerces da Três”, definia ele. Dois anos depois do lançamento de STATUS, capitalizada pelo sucesso comercial da revista, a empresa estava forte o suficiente para montar em 1976 uma empresa-filhote, a Encontro Editorial e, através dela, colocar nas ruas uma mensal de nome provocativo: ISTOÉ, inspirada no título argentino EstoÉs. A revista foi um sucesso instantâneo e radical, que lançou a editora em outro patamar. Nessa época, porém, Luís Carta já deixara a sociedade para montar sua Carta Editorial. Pela primeira vez, desde a criação da Três, Alzugaray estava sozinho na direção da empresa – e ela avançava de vento em popa. Em março de 1977 a ISTOÉ se transformaria na primeira semanal da editora. “Era uma época dura, de pouca liberdade para a imprensa, mas entramos sem medo”, contou Alzugaray. Reportagens que denunciavam as mazelas nacionais – corrupção, miséria, violência – se tornariam a tônica na revista. O regime militar ia relutantemente se abrindo e ISTOÉ aproveitava, com suor e talento, cada brecha. As reuniões de pauta pareciam comícios, trazendo convidados especiais como FHC. Foi nessa época que ISTOÉ descobriu e pôs na capa o líder metalúrgico Lula. Era uma das primeiras grandes contribuições da Três para cristalizar a democracia no País. Com a ISTOÉ, milhões de leitores descobriram que o verdadeiro jornalismo nasce da contradição e do debate, e não do pensamento único e estratificado. Esse espírito moveu e move a revista em toda a sua história.

No rol de lançamentos, Alzugaray também teve alguns percalços. E nem poderia ser diferente para quem nunca temeu eventuais fracassos. O maior deles chamou-se Jornal da República, um diário de ares europeus, com poucas fotos e predomínio total dos temas graves. “Foi um erro que me custou oito anos”, avaliou Alzugaray. Mas logo após lá estava ele de novo na corrida por criação de títulos e colocou nas bancas a revista SENHOR, com inspiração na britânica The Economist e direito de publicação do seu material. Nessa fase havia perdido a ISTOÉ, que foi entregue ao Unibanco em troca do pagamento das dívidas do jornal. Tempos depois, para juntar os dois mercados de economia e interesse geral, Alzugaray recomprou ISTOÉ em 36 parcelas e relançou a revista como ISTOÉ-Senhor, vindo depois a abandonar a marca Senhor. Para não deixar a editora órfã de um título de economia, anos depois, em 1997, o já veterano inventor de revistas, pressentindo que a hora havia chegado, abriu espaço no seu portfólio para uma semanal de economia, negócios e finanças, a ISTOÉ DINHEIRO, nos moldes da BusinessWeek, que rapidamente conquistou empresários, financistas e o mundo corporativo. “Dinheiro nunca me deu trabalho e sim uma enorme repercussão”, refletia Alzugaray.

“Não vendo”

E tamanha foi essa projeção que meses após o surgimento da revista as organizações Globo, planejando assumir um naco do mercado de semanais, esticou o olho sobre os títulos da Três e fez uma proposta tentadora para ficar com ISTOÉ, antes de lançar Época. “Passei seis meses negociando com eles sem nenhuma intenção de vender, só para ganhar tempo”, relembrava. Num determinado momento, um diretor da Globopar disse: “ou você vende ou vamos passar por cima de você como um rolo compressor”. Provocou assim o instinto guerreiro de Alzugaray. “Agora é que eu não vendo mesmo! Quero que você prove, em termos de negócio, como é que se passa como um rolo compressor por cima da gente”. Outros foram à carga. A Editora Camelot em parceria com o Banco Patrimônio tentou adquirir todo o grupo. Fez um lance com cifras irrecusáveis. Alzugaray balançou. Recolheu-se no final de semana na fazenda, em Ibiúna. Pensou e na segunda-feira seguinte já tinha o veredicto: “desculpe qualquer coisa, mas estou fora”. Ele explicou para os executivos interessados que não ia ter o que fazer com o dinheiro e nem teria mais tempo disponível para criar uma outra editora e outras semanais com o mesmo prestígio. “Pego esse dinheiro e vou fazer o que? Dar de comer aos esquilinhos no Central Park em Nova York?”. Definitivamente essa possibilidade nunca esteve no radar de Alzugaray. Ele jamais desistiria do que sempre foi a sua razão de viver. Fonte: Brasil 247.

Aos 87 anos, morre o flautista Plauto Cruz

Um dos maiores instrumentistas gaúchos sofria de Parkinson e de Alzheimer e estava internado no Hospital de Clínicas desde quinta-feira
Aos 87 anos, morre o flautista Plauto Cruz Achutti/Divulgação
29/07/2017 - Um dos maiores músicos instrumentistas do Rio Grande do Sul, o flautista Plauto Cruz, 87 anos, morreu na noite desta sexta-feira (28), em Porto Alegre. Em seus últimos anos de vida, o músico sofria com problemas de saúde causados pelo Parkinson e pelo Alzheimer, que ganharam força nos últimos seis anos, conforme familiares.

Uma das filhas de Plauto, Marlene Cruz, 57 anos, disse que o pai foi realizar uma consulta no Hospital de Clínicas da Capital na última quinta-feira (27). No local, os médicos constataram piora no quadro de saúde do paciente e resolveram interná-lo para intensificar o tratamento. No entanto, ele faleceu no dia seguinte.

— Ele era um grande pai, um grande músico — sintetizou Marlene.

O músico era viúvo de Eva, com quem foi casado por quase 50 anos e teve seis filhos, além de netos e bisnetos. O velório de Plauto Cruz ocorrerá a partir das 8h deste sábado (29) na capela F do Cemitério Parque Jardim da Paz (Estrada João de Oliveira Remião, 1.347). O enterro será às 16h no mesmo local, conforme informou a família em uma página do Facebook.

Vida e obra

O flautista nasceu em 15 de novembro de 1929 em São Jerônimo. Filho do flautista José Alves da Cruz, revelou desde a infância o talento para o instrumento. Em 1944, a família mudou-se para Porto Alegre, onde o jovem Plauto passou a se apresentar em eventos e programas de rádio.

A trajetória de Plauto foi das principais emissoras de Porto Alegre, como contratado, aos palcos do Brasil, ao lado de personalidades como Lupicínio Rodrigues, Orlando Silva e Elis Regina. Ele atuou também em programas de TV, mas foi ao viver a época de ouro do rádio que arrebatou auditórios nas emissoras Clube Metrópole, Itaí, Farroupilha, Gaúcha e Difusora.

Segundo o site do Dicionário da MPB, Plauto gravou seis LPs e dois CDs como solista e mais de 40 discos como acompanhador. Foi o arranjador da música Maria Fumaça, da dupla Kleiton e Kledir (assista abaixo), que deu o nome ao show de estreia da dupla, que levou o nome da canção e tornou-se um dos hits da carreira dos irmãos.

Plauto conquistou vários prêmios em festivais nos quais participou como flautista e compositor ao longo da carreira. Foi premiado com 60 honrarias e troféus, entre elas a medalha Simões Lopes Neto, concedida pelo governo do Rio Grande do Sul.

Tocando na noite, encantou o público nas melhores casas de Porto Alegre, entre elas, o Vinha D¿Alho e o Viva Maria. Em 2010, a sua flauta ainda emitiu belas melodias todas as quintas-feiras no Bar Odeon, no Centro da Capital. Na época, em reportagem do Diário Gaúcho, sentenciou:

– A música é só amizade, é o que a gente tem de maravilhoso na vida.

Obras vinham sendo digitalizadas

Plauto Cruz gravou dezenas de obras. Muitas delas acabaram se perdendo no tempo e outra parte ainda vive, mas sem acesso fácil. Para reverter essa situação, o Acervo Plauto Cruz passou, conforme reportagem de ZH de abril deste ano, a digitalizar e colocar na internet a discografia do mestre do choro.

A plataforma escolhida pelo idealizador do projeto, o músico e pesquisador Paulinho Parada, para receber a obra foi o YouTube. No canal que leva o nome do flautista, já estão alocados, além de O Choro é Livre (1978), os álbuns Remanso (1993, com Mário Barros), Choros e Canções (1999), 26 Anos de Parceria (2003, com João Pernambuco) e Engenho e Arte (1996, com Mário Barros).


O projeto começou a ser desenhado oficialmente em 2014, mas já existia há muito tempo no coração de seu idealizador,

— Comecei a me interessar pelo Plauto aos 7 anos de idade, quando ganhei um disco dele do meu avô — conta. — Em 2007, já como músico, me tornei amigo dele e passei a admirá-lo também como pessoa.

A ideia, segundo Paulinho, é privilegiar a obra de Plauto como compositor e intérprete, uma vez que, como músico acompanhante, não há sequer registro da quantidade de canções gravadas por ele:

— O Plauto tocava muito, acompanhava qualquer músico que fosse gravar um disco na (gravadora) Isaec, por exemplo. Por isso, temos participações dele desde em discos de artistas que não estouraram aos grandes nomes, como Kleiton e Kledir e Lupicínio.

Como mestrando em Música na UFRGS, Paulinho estava ampliando sua pesquisa para outros grandes nomes da música gaúcha que caíram no ostracismo:

— Temos uma série de músicos e instrumentistas, que atuaram ali pelos anos 1950, 1960, 1970 e por aí adiante, mas que não se preocuparam em organizar sua obra. É um pouco de olhar e perguntar porque essa gente está esquecida e o que podemos fazer para valorizar esses artistas — comentou Paulinho. — Até para que, no futuro, não se repitam mais esses cânones europeus com tanta veemência ao invés de, por exemplo, Plauto Cruz. Fonte: Zero Hora.